Pular para o conteúdo principal

Como Vampiros Antigos

A Morte De Um Amor

Ela estava sentada no canto do quarto, observando as sombras que dançavam na parede, já desacreditando no que acabara de fazer. Estava aliviada, porém não conseguia conter as lágrimas que insistiam em rolar pela sua face, a tristeza que a invadia, quase lhe causando algum arrependimento... quase.
Suas bochechas estavam avermelhadas e até um pouco inchadas, ela olhou para suas mãos sujas de sangue, apreciando a cor vermelha que invadia o quarto, as lágrimas aos poucos foram cessando, a sensação agora era somente de alívio, de liberdade. Ela sentia a tristeza escorrendo para fora de seu coração, assim como o sangue que jorrava para fora do corpo de seu amado.
Ela se levantou, saindo do estado de choque em que esteve. Se sentindo viva, e gostando disso, do sabor de ter retirado um peso das suas costas. Ela se ajoelhou ao lado daquele corpo sem vida, abraçando-o e percorrendo os dedos pela face inerte daquele que um dia fora seu amor, com um sorriso no rosto começou a proferir algumas palavras, quase que pra si mesma.

"Ah, meu doce amor, como tudo foi chegar aqui? Eu pensei que nunca acabaria, que os nossos sorrisos iam seguir por anos e anos a fio, mas acabou, certo? Aposto que se você pudesse, diria que nunca acaba, você sempre soube exatamente o que dizer."

Ela deixou o corpo cair novamente na poça de sangue, acariciando aquela face uma última vez. Se levantou e foi em direção à porta do quarto, ela estava indo embora e não voltaria a visitar aquele lugar. Ela abriu a porta e ficou parada ali por alguns segundos, que se arrastaram por uma eternidade, sem olhar pra trás ela disse:

"Agora sim, acabou."

Ela bateu a porta e respirou fundo. Foi andando calmamente sem direção e repetindo em sua mente, querendo convencer a si mesma: "Agora sim, acabou".

Não foi assim que aconteceu, não havia corpo algum, não havia um quarto. O que ela matou foi o amor que possuía em seu coração, mas se um dia alguém perguntá-la o que aconteceu, ela dirá que foi assim que ela se sentiu.

Comentários

  1. Adorei!
    Achei o fim surpreendente, não pq o fim seja assim tão difícil de se imaginar, mas sim porque a história é envolvente, e faz com que deixemos as "adivinhações" de lado e simplesmente deixamos a historia nos levar.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Brilhante, assim como você sempre foi.

    ResponderExcluir
  3. Final surpreendente, gostei muito! Eu imaginei outra coisa, mas de fato o que escreveu é bem melhor!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Eu Te Esqueci

Já me esqueci do seu cheiro. Já sumiu do meu quarto, dos travesseiros e dos cobertores, sumiu das paredes. Não consigo mais sentir o seu perfume, nem me lembro se era doce. Já me esqueci dos seus olhos, sequer lembro das cores, do brilho e das expressões, me esqueci também do seu jeito de piscar lentamente e me olhar, lembro que eu gostava, acho que até escrevi algo sobre eles, deve estar perdido por aqui em algum canto. Já me esqueci do seu sorriso, dos teus lábios e dos teus beijos. Esqueci completamente como eu me sentia quando ouvia sua voz, juro que meu coração não acelera ao te ver atravessando a rua enquanto eu passo do outro lado. Me esqueci dos sons que fazia enquanto dormia, acabei de esquecer, eu acho. Eu não preciso mais de você, eu pensei que precisava, por muito tempo eu senti que havia algo faltando em mim que só você completava, mas felizmente eu percebi que não era bem assim. Acho que consegui me libertar, afinal, o tempo cura tudo. Já sou capaz de olhar pra tr...

Eternidade

"O que é a eternidade?" Eu me pergunto isso todos os dias, quanto tempo é "eterno"? Quem mede esse tempo? Será que as juras de "te amarei para sempre" vêm acompanhadas de um passe para o infinito dos dias, até o colapso do universo, ou apenas até o fim da vida? Quanto tempo é "tempo demais"? Eu realmente gostaria de saber, olha bem aqui, nos meus olhos e me diga que o tempo que passamos juntos foi demais... ou diga que foi pouco... até diga que foi nada, mas me diga o que você pensa sobre nós, sobre o tempo em que éramos "nós contra o mundo, tudo e todos". Ou me diga que esse tempo nunca existiu fora da minha cabeça, pois neste exato momento eu não sei separar a realidade dos meus sonhos com você. Então me diga, onde nós estamos?

Como Vampiros Antigos

A luz adentra meu quarto pelas frestas da janela, sinto que o sol surge ao leste e meu corpo pesa, me sinto sonolento e até um pouco cansado, mesmo que eu já tenha dito que até o cansaço já me abandonou. Minhas memórias viajam até você, vejo seu rosto mais uma vez como na primeira vez em que acordei ao seu lado, incomodado pela luminosidade, mas ligeiramente feliz por presenciar a maneira como você fica ainda mais linda dormindo à meia luz.