Ele se sentou debaixo da sombra do salgueiro que ficava em frente ao campo de girassóis, aos 89 anos já não tinha a mesma agilidade pra cuidar das flores sem fazer pausas regulares. Pegou a garrafa térmica dentro da cesta de piquenique que levava religiosamente todos os dias para aquele campo, serviu-se com uma xícara de chá gelado. Retirou os óculos que protegiam os olhos cansados, olhos que viram o mundo à sua volta mudar diversas vezes, se conservavam numa expressão triste e às vezes até mesmo vazia. Tomou um gole do chá, olhou para todas aquelas flores amarelas que brilhavam no campo, apesar das nuvens que encobriam o céu e, num lampejo da sua memória fraca, viu uma jovem correndo por aqueles campos. Era ela. Quase setenta anos haviam se passado, era a mesma garota de sorriso meigo e olhos castanhos brilhantes, fazendo o que nunca pôde fazer. Ela corria pelos campos, maravilhada com os girassóis plantados e tão bem cuidados, seu sonho realizado que ela nunca viu.
Um coração que não sabe bater para um escritor que não sabe escrever