Ele se sentou debaixo da sombra do salgueiro que ficava em frente ao campo de girassóis, aos 89 anos já não tinha a mesma agilidade pra cuidar das flores sem fazer pausas regulares. Pegou a garrafa térmica dentro da cesta de piquenique que levava religiosamente todos os dias para aquele campo, serviu-se com uma xícara de chá gelado.
Retirou os óculos que protegiam os olhos cansados, olhos que viram o mundo à sua volta mudar diversas vezes, se conservavam numa expressão triste e às vezes até mesmo vazia. Tomou um gole do chá, olhou para todas aquelas flores amarelas que brilhavam no campo, apesar das nuvens que encobriam o céu e, num lampejo da sua memória fraca, viu uma jovem correndo por aqueles campos. Era ela.
Quase setenta anos haviam se passado, era a mesma garota de sorriso meigo e olhos castanhos brilhantes, fazendo o que nunca pôde fazer. Ela corria pelos campos, maravilhada com os girassóis plantados e tão bem cuidados, seu sonho realizado que ela nunca viu.
Uma lágrima escorreu. Cada dia dos últimos sessenta e sete anos havia sido dedicado ao campo de girassóis que ele plantou, nem que fosse apenas uma hora olhando para as flores, ele não passou um dia sequer longe dos girassóis, não enquanto estivesse consciente, chegando a fugir do hospital após um ataque cardíaco, apenas para ligar a irrigação do campo e garantir que as flores não morreriam, assim como seu amor não morreria.
Fechou os olhos, lembrou de sua voz. Doce. Poucas palavras foram trocadas com aquela voz, viveram num tempo onde pouco se escutava a voz um do outro, mas sempre leu o que ela escreveu, lembrando os trejeitos e sotaques únicos que a tornavam inconfundível, mesmo numa multidão que gritasse em todos os idiomas conhecidos, ele reconheceria até mesmo um sussurro.
No entanto nunca a amou, não fisicamente. Ela sempre esteve um tanto quanto distante, seu coração pertencia a outro alguém, desde que se conheceram, ele sentiu que seu coração defeituoso ficaria honrado de pertencê-la.
Foram bons amigos, ela era sua melhor amiga, era pra onde ele queria voltar todas as vezes, era pra ela que ele queria mandar mensagens onde escrevia sua alma. Foi pra ela que ele escreveu seus livros, vários livros que tornaram o calor de seu coração em seu ganha-pão.
Pensar que agora ele já não lia muitas palavras durante seu dia e muito menos escrevia, sua cabeça já havia parado há anos. Agora ele estava sozinho, nunca se casou, não teve filhos e a família já havia se dissolvido há muito tempo. Perdeu o contato com aquela menina doce, só ouviu dizer que ela se casou e teve filhos muitos anos depois.
Lembrou-se dos poucos dias ao seu lado, do dia em que ela disse adeus.
Abriu os olhos cansados e ela continuava lá, correndo e sorrindo entre o campo de girassóis. Todo o esforço valeu a pena, pra vê-la ali, mesmo sabendo em seu íntimo que não poderia ser real, ele sorriu de volta e acenou, ela acenou de volta e gritou seu nome. Ele estava cansado, deitou-se na grama sob o salgueiro e fechou os olhos levemente, apenas para descansar, fechou os olhos pela última vez ouvindo-a dizer seu nome correndo pelo campo de girassóis.
Retirou os óculos que protegiam os olhos cansados, olhos que viram o mundo à sua volta mudar diversas vezes, se conservavam numa expressão triste e às vezes até mesmo vazia. Tomou um gole do chá, olhou para todas aquelas flores amarelas que brilhavam no campo, apesar das nuvens que encobriam o céu e, num lampejo da sua memória fraca, viu uma jovem correndo por aqueles campos. Era ela.
Uma lágrima escorreu. Cada dia dos últimos sessenta e sete anos havia sido dedicado ao campo de girassóis que ele plantou, nem que fosse apenas uma hora olhando para as flores, ele não passou um dia sequer longe dos girassóis, não enquanto estivesse consciente, chegando a fugir do hospital após um ataque cardíaco, apenas para ligar a irrigação do campo e garantir que as flores não morreriam, assim como seu amor não morreria.
Fechou os olhos, lembrou de sua voz. Doce. Poucas palavras foram trocadas com aquela voz, viveram num tempo onde pouco se escutava a voz um do outro, mas sempre leu o que ela escreveu, lembrando os trejeitos e sotaques únicos que a tornavam inconfundível, mesmo numa multidão que gritasse em todos os idiomas conhecidos, ele reconheceria até mesmo um sussurro.
No entanto nunca a amou, não fisicamente. Ela sempre esteve um tanto quanto distante, seu coração pertencia a outro alguém, desde que se conheceram, ele sentiu que seu coração defeituoso ficaria honrado de pertencê-la.
Foram bons amigos, ela era sua melhor amiga, era pra onde ele queria voltar todas as vezes, era pra ela que ele queria mandar mensagens onde escrevia sua alma. Foi pra ela que ele escreveu seus livros, vários livros que tornaram o calor de seu coração em seu ganha-pão.
Pensar que agora ele já não lia muitas palavras durante seu dia e muito menos escrevia, sua cabeça já havia parado há anos. Agora ele estava sozinho, nunca se casou, não teve filhos e a família já havia se dissolvido há muito tempo. Perdeu o contato com aquela menina doce, só ouviu dizer que ela se casou e teve filhos muitos anos depois.
Lembrou-se dos poucos dias ao seu lado, do dia em que ela disse adeus.
Abriu os olhos cansados e ela continuava lá, correndo e sorrindo entre o campo de girassóis. Todo o esforço valeu a pena, pra vê-la ali, mesmo sabendo em seu íntimo que não poderia ser real, ele sorriu de volta e acenou, ela acenou de volta e gritou seu nome. Ele estava cansado, deitou-se na grama sob o salgueiro e fechou os olhos levemente, apenas para descansar, fechou os olhos pela última vez ouvindo-a dizer seu nome correndo pelo campo de girassóis.
Lindo texto! Emocionante!Você conseguiu retratar uma vida em poucas palavras.
ResponderExcluirMas é preciso ter sensibilidade, para reconhecer a grandeza deste deste texto.
Parabéns!
Obrigado (:
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