Quando atendeu o telefone, Juliana havia se enchido de alegria ao ver que foi Diego quem estava ligando, porém a alegria se dissipou assim que escutou o tom de voz um pouco distante e sem aquela alegria característica que o rapaz havia mostrado nos dois meses desde que se conheceram.
Ela gostava dele, mais do que pudesse admitir, mais do que quisesse admitir. Eles tinham algo entre si, uma implicância que aumentava a acidez do relacionamento, se é que tinham um relacionamento. De certo modo ela gostava da maneira como ele discordava dela, mais do que gostava quando os outros rapazes concordavam, ela achava que isso poderia manter uma chama acesa mesmo nos dias mais frios.
"Precisamos conversar", ele disse com aquele tom de voz que ela nunca esqueceria, era um tom calmo, quase que arrogante, mas ao mesmo tempo, ela adorava ouvir aquela voz.
Eles marcaram numa praça para conversar. Juliana passou o restante do dia aflita e curiosa, louca para saber o que o rapaz guardava, o que ele queria dizer assim. Ao fim da tarde se encontraram, ele estava sério, mas não parecia nervoso, ele chegou e abraçou rapidamente a moça, cumprimentou-a com um beijo no rosto, ela achou estranho, pois estava acostumada com beijos e abraços calorosos daquele rapaz, que parecia estar sempre com saudades. Sentaram-se num banco da praça, de frente para uma fonte.
—E aí, Ju, como foi o seu dia?
—Foi bom, tirando essa curiosidade que você me deixou.
—Então, o que eu vou te falar não é fácil, mas eu acho que é o melhor pra nós. — Ele transpareceu o nervosismo na voz.
—Nossa, eu já sabia, você vai me dar um pé na bunda, não é?
—Hoje, no caminho para o trabalho eu acabei encontrando minha ex, sabe, ficamos muito tempo sem nos falar e colocamos a conversa em dia. Conversa vai, conversa vem e, você sabe, acabamos falando do tempo que a gente namorava e tudo.
—Hum. — Ela resmungou.
—Ela me olhou nos olhos e disse que sentia minha falta, sabe? E falou que poderíamos voltar, continuar de onde paramos e...
—O que você respondeu? — Ela perguntou, tinha medo da resposta.
—Bem, já conversamos sobre isso... eu sei que se fosse você e aquele seu ex, você faria o mesmo, sabe? — Ele disse com um tom de voz desconcertado — Você sabe os meus sentimentos por ela, e nós dois... eu e você... não dá pra saber o que a gente tem.
—Entendo. — Ela baixou a cabeça, contendo as lágrimas, olhando para o tênis vermelho nos pés do rapaz.
Ela sentiu seu coração se partir. Ele havia chegado devagar, tomado espaço em seu coração de uma maneira única, fazia com que ela se sentisse feliz, mesmo nos piores dias. Foi difícil para que ela imaginasse os dias seguintes sem as mensagens carinhosas que ela dizia odiar porque eram melosas demais. Se lembrou quando o rapaz disse que ia cuidar do coração dela, poucos dias antes. Agora ele ia abandoná-la, como todos os outros rapazes fizeram, como ele disse que não faria.
—Então... eu respondi que não, que eu já estava saindo com outra pessoa e que essa garota já me fazia bem e eu não trocaria ela por nada.
—Oi? — Ela olhou confusa pra ele.
—É você, Criatura. — O rosto sério do rapaz deu lugar a um belo sorriso, ele olhou bem fundo nos olhos dela. — Você me faz bem, estou feliz com você de uma maneira que eu não trocaria por nada, você já devia saber disso.
Ele se inclinou, passou a mão pelos cachos da garota, segurando-a pela nuca e beijou-a nos lábios. Ainda em choque ela retribuiu o beijo e logo em seguida empurrou o rapaz.
—É sério isso? — Ela perguntou, com indignação na voz, mas com felicidade no olhar.
—Isso é você que vai me dizer agora. — Ele sorriu.
—Como assim?
—Não dá pra saber o que a gente tem. Eu quero saber, eu quero que seja sério. Eu gosto de você, você gosta de mim, a gente tem tudo pra dar certo, exceto um relacionamento estabelecido, então, será que estamos namorando?
Ela pensou um pouco, olhou para o rosto do rapaz.
—Não. — Ela disse, firme e fria.
—Uhm sim, compreendo...
—É claro que sim, Meu Bem — Ela envolveu o pescoço do rapaz num abraço e deu-lhe um beijo. — Mas precisava fazer isso? Quase me mata do coração.
—Precisava, você tinha que saber como seria me perder e tals, dizem que a gente só dá valor quando perde né. Então, você não podia me deixar escapar.
—Mas você se acha demais né. — Ela o beijou.
—E não devia? Olha pra mim.
—Você é louco. — Ela o beijou novamente.
—Sim, muito. — Ele a abraçou apertado e ficaram ali, abraçados olhando a fonte sendo iluminada pelo fim de tarde.
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