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Como Vampiros Antigos

A Aflição

Pedro estava tenso, trêmulo ao pegar as chaves do carro na mesinha da sala. Trancou a porta, ignorou o cachorro que tirava uma soneca no quintal e correu para dentro do carro, deu a partida e abriu o portão elétrico, manobrando o carro para fora da garagem devagar, apesar do desespero inquietante que possuía dentro de si.
Um clique no controle e o portão voltou a fechar-se, antes que se fechasse completamente, Pedro já estava a uma quadra de distância, corria, apesar de torcer por estar errado, queria ter certeza.
Estava nervoso, apertava o volante com força, tornando os nós dos dedos esbranquiçados. Sua respiração estava ofegante, apesar do ar condicionado ligado.
Seus batimentos enlouqueciam o monitor cardíaco no pulso, se ele não se acalmasse poderia começar a passar mal, isso ao volante seria péssimo, ainda mais na velocidade em que dirigia. O pulso forte poderia ser percebido a alguns centímetros de distância em sua carótida que saltava violentamente, fazendo tremer parte do pescoço. Ligou o som para tentar se acalmar, uma balada do Bon Jovi sobre deitar numa cama de rosas e dormir numa de pregos, ou algo assim.
A tensão foi diminuindo à medida que ele cantava, quando parou no sinal já estava bem calmo, abriu a janela apesar da chuva, olhou para o lado, onde havia um cemitério, e viu um sujeito segurando um buquê de rosas vermelhas enquanto se deitava ao lado de uma sepultura. Começou a rir da cena e da cara do rapaz que se deitava ali, demorou alguns segundos até perceber que o sinal estava verde.
Dirigiu numa velocidade bem próxima do limite, seguindo as placas em direção ao aeroporto, pensando a cada segundo naquela notícia de um avião que havia caído pouco antes por conta da chuva, "Será que era o voo de Priscila?" ele acelerou.
Chegando próximo ao aeroporto, percebeu que não estava sozinho, a fila de carros se estendia por algumas quadras, provavelmente não foi o único que ficou desesperado ao ver a queda no noticiário. Estacionou em qualquer canto e percorreu o resto do caminho a pé, apesar da chuva. Pelas suas contas faltavam 15 minutos para a chegada do voo de Priscila. Ela só havia informado o horário aproximado.
Ele se posicionou numa das cadeiras, de maneira que conseguia visualizar todos os desembarques ali. O tempo passou, cinco minutos, dez, vinte, meia hora... chegando na marca de uma hora ele estava desesperado, sem notícias, sem vê-la, andava de um lado para o outro. Lembrou-se do rapaz no cemitério, decidiu comprar flores.
Assim que pegou o ramalhete em suas mãos, seu telefone tocou. Era Priscila, ele atendeu:

—Pedro? Está aí? — Ouvir a voz de Priscila trouxe um alívio imediato para Pedro, que pôde sentir um peso sendo aliviado dos ombros.
—Estou sim, já desembarcou?
—Estou falando no telefone, isso é um sinal de que...? — Ela respondeu, irônica como sempre.
—Ah é, verdade... Onde você está? Não estou te vendo. 
—Já estou saindo, que bom que você veio me buscar, o voo acabou atrasando, você esperou muito?
—Um pouco, vi no noticiário que houve um acidente, vim o mais rápido que pude.

—Sério? Quando foi isso?
—Algumas horas atrás, eu acho, um voo vindo de Florianópolis para a Pampulha, pensei que fosse o seu.
—Você sabe que estou em Confins né? — Ela perguntou, já sabendo a resposta.
—Opa. — Ele olhou para o buquê em sua mão. — Já estou indo, não se preocupe.
—Sabe por que eu te amo, Pedro? — Ela perguntou.
—Olha, essa é uma pergunta complicada, tenho minhas suspeitas, talvez seja o meu charme.
—Eu te amo, porque você é atrapalhado, desastrado.
—E isso lá é motivo pra amar alguém? — Ele disse, já saindo do aeroporto e correndo sob a chuva.
—É sim, você é desastrado com tudo, se atrapalha com tanta coisa e esquece de detalhes, mas no final, nunca se esquece de mim, se preocupa até demais.
—É, acho que sim. — Ele disse abrindo a porta do carro.
—Meia horinha?
—Meia horinha.

Ele desligou o telefone, jogou no banco do carona junto com o buquê. Olhou para as rosas, riu um pouco e saiu dali, ainda ao som de Bon Jovi, em direção ao aeroporto certo dessa vez.

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